Marcos
E chegaram à outra margem do mar, à província dos gadarenos.
E, saindo ele do barco, lhe saiu logo ao seu encontro, dos sepulcros, um homem com espírito imundo,
o qual tinha a sua morada nos sepulcros, e nem ainda com cadeias o podia alguém prender.
Porque, tendo sido muitas vezes preso com grilhões e cadeias, as cadeias foram por ele feitas em pedaços, e os grilhões, em migalhas, e ninguém o podia amansar.
E andava sempre, de dia e de noite, clamando pelos montes e pelos sepulcros e ferindo-se com pedras.
E, quando viu Jesus ao longe, correu e adorou-o.
E, clamando com grande voz, disse: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Conjuro-te por Deus que não me atormentes.
(Porque lhe dizia: Sai deste homem, espírito imundo.)
E perguntou-lhe: Qual é o teu nome? E lhe respondeu, dizendo: Legião é o meu nome, porque somos muitos.
E rogava-lhe muito que os não enviasse para fora daquela província.
E andava ali pastando no monte uma grande manada de porcos.
E todos aqueles demônios lhe rogaram, dizendo: Manda-nos para aqueles porcos, para que entremos neles.
E Jesus logo lho permitiu. E, saindo aqueles espíritos imundos, entraram nos porcos; e a manada se precipitou por um despenhadeiro no mar (eram quase dois mil) e afogou-se no mar.
E os que apascentavam os porcos fugiram e o anunciaram na cidade e nos campos; e saíram muitos a ver o que era aquilo que tinha acontecido.
E foram ter com Jesus, e viram o endemoninhado, o que tivera a legião, assentado, vestido e em perfeito juízo, e temeram.
E os que aquilo tinham visto contaram-lhes o que acontecera ao endemoninhado e acerca dos porcos.
E começaram a rogar-lhe que saísse do seu território.
E, entrando ele no barco, rogava-lhe o que fora endemoninhado que o deixasse estar com ele.
Jesus, porém, não lho permitiu, mas disse-lhe: Vai para tua casa, para os teus, e anuncia-lhes quão grandes coisas o Senhor te fez e como teve misericórdia de ti.
E ele foi e começou a anunciar em Decápolis quão grandes coisas Jesus lhe fizera; e todos se maravilhavam.
E, passando Jesus outra vez num barco para o outro lado, ajuntou-se a ele uma grande multidão; e ele estava junto do mar.
E eis que chegou um dos principais da sinagoga, por nome Jairo, e, vendo-o, prostrou-se aos seus pés
e rogava-lhe muito, dizendo: Minha filha está moribunda; rogo-te que venhas e lhe imponhas as mãos para que sare e viva.
E foi com ele, e seguia-o uma grande multidão, que o apertava.
E certa mulher, que havia doze anos tinha um fluxo de sangue,
e que havia padecido muito com muitos médicos, e despendido tudo quanto tinha, nada lhe aproveitando isso, antes indo a pior,
ouvindo falar de Jesus, veio por detrás, entre a multidão, e tocou na sua vestimenta.
Porque dizia: Se tão somente tocar nas suas vestes, sararei.
E logo se lhe secou a fonte do seu sangue, e sentiu no seu corpo estar já curada daquele mal.
E logo Jesus, conhecendo que a virtude de si mesmo saíra, voltou-se para a multidão e disse: Quem tocou nas minhas vestes?
E disseram-lhe os seus discípulos: Vês que a multidão te aperta, e dizes: Quem me tocou?
E ele olhava em redor, para ver a que isso fizera.
Então, a mulher, que sabia o que lhe tinha acontecido, temendo e tremendo, aproximou-se, e prostrou-se diante dele, e disse-lhe toda a verdade.
E ele lhe disse: Filha, a tua fé te salvou; vai em paz e sê curada deste teu mal.
Estando ele ainda falando, chegaram alguns do principal da sinagoga, a quem disseram: A tua filha está morta; para que enfadas mais o Mestre?
E Jesus, tendo ouvido essas palavras, disse ao principal da sinagoga: Não temas, crê somente.
E não permitiu que alguém o seguisse, a não ser Pedro, e Tiago, e João, irmão de Tiago.
E, tendo chegado à casa do principal da sinagoga, viu o alvoroço e os que choravam muito e pranteavam.
E, entrando, disse-lhes: Por que vos alvoroçais e chorais? A menina não está morta, mas dorme.
E riam-se dele; porém ele, tendo-os feito sair, tomou consigo o pai e a mãe da menina e os que com ele estavam e entrou onde a menina estava deitada.
E, tomando a mão da menina, disse-lhe: Talitá cumi, que, traduzido, é: Menina, a ti te digo: levanta-te.
E logo a menina se levantou e andava, pois já tinha doze anos; e assombraram-se com grande espanto.
E mandou-lhes expressamente que ninguém o soubesse; e disse que lhe dessem de comer.