Jó
Poderás pescar com anzol o leviatã ou ligarás a sua língua com a corda?
Podes pôr uma corda no seu nariz ou com um espinho furarás a sua queixada?
Porventura, multiplicará as suas suplicações para contigo? Ou brandamente te falará?
Fará ele concertos contigo, ou o tomarás tu por escravo para sempre?
Brincarás com ele, como se fora um passarinho, ou o prenderás para tuas meninas?
Os teus companheiros farão dele um banquete, ou o repartirão entre os negociantes?
Encherás a sua pele de ganchos, ou a sua cabeça de arpéus de pescadores?
Põe a tua mão sobre ele, lembra-te da peleja e nunca mais tal intentarás.
Eis que a sua esperança falhará; porventura, nenhum à sua vista será derribado?
Ninguém há tão atrevido, que a despertá-lo se atreva; quem, pois, é aquele que ousa erguer-se diante de mim?
Quem primeiro me deu, para que eu haja de retribuir-lhe? Pois o que está debaixo de todos os céus é meu.
Não me calarei a respeito dos seus membros, nem da relação das suas forças, nem da graça da sua compostura.
Quem descobriria a superfície da sua veste? Quem entrará entre as suas queixadas dobradas?
Quem abriria as portas do seu rosto? Pois em roda dos seus dentes está o terror.
As suas fortes escamas são excelentíssimas, cada uma fechada como com selo apertado.
Uma à outra se chega tão perto, que nem um assopro passa por entre elas.
Umas às outras se ligam; tanto aderem entre si, que não se podem separar.
Cada um dos seus espirros faz resplandecer a luz, e os seus olhos são como as pestanas da alva.
Da sua boca saem tochas; faíscas de fogo saltam dela.
Do seu nariz procede fumaça, como de uma panela fervente, ou de uma grande caldeira.
O seu hálito faz acender os carvões; e da sua boca sai chama.
No seu pescoço pousa a força; perante ele, até a tristeza salta de prazer.
Os músculos da sua carne estão pegados entre si; cada um está firme nele, e nenhum se move.
O seu coração é firme como uma pedra e firme como a mó de baixo.
Levantando-se ele, tremem os valentes; em razão dos seus abalos, ficam fora de si.
Se alguém lhe tocar com a espada, essa não poderá penetrar, nem lança, dardo ou flecha.
Ele reputa o ferro palha, e o cobre, pau podre.
A seta o não fará fugir; as pedras das fundas se lhe tornam em restolho.
As pedras atiradas são para ele como arestas, e ri-se do brandir da lança.
Debaixo de si tem conchas pontiagudas; estende-se sobre coisas pontiagudas como na lama.
As profundezas faz ferver, como uma panela; torna o mar como quando os unguentos fervem.
Após ele alumia o caminho; parece o abismo tornado em brancura de cãs.
Na terra, não há coisa que se lhe possa comparar, pois foi feito para estar sem pavor.
Todo o alto vê; é rei sobre todos os filhos de animais altivos.