Marcos
E, logo ao amanhecer, os principais dos sacerdotes, e os anciãos, e os escribas, e todo o Sinédrio tiveram conselho; e, amarrando Jesus, o levaram e entregaram a Pilatos.
E Pilatos lhe perguntou: Tu és o Rei dos judeus? E ele, respondendo, disse-lhe: Tu o dizes.
E os principais dos sacerdotes o acusavam de muitas coisas, porém ele nada respondia.
E Pilatos o interrogou outra vez, dizendo: Nada respondes? Vê quantas coisas testificam contra ti.
Mas Jesus nada mais respondeu, de maneira que Pilatos se maravilhava.
Ora, no dia da festa costumava soltar-lhes um preso qualquer que eles pedissem.
E havia um chamado Barrabás, que, preso com outros amotinadores, tinha num motim cometido uma morte.
E a multidão, dando gritos, começou a pedir que fizesse como sempre lhes tinha feito.
E Pilatos lhes respondeu, dizendo: Quereis que vos solte o Rei dos judeus?
Porque ele bem sabia que, por inveja, os principais dos sacerdotes o tinham entregado.
Mas os principais dos sacerdotes incitaram a multidão para que fosse solto antes Barrabás.
E Pilatos, respondendo, lhes disse outra vez: Que quereis, pois, que faça daquele a quem chamais Rei dos judeus?
E eles tornaram a clamar: Crucifica-o.
Mas Pilatos lhes disse: Mas que mal fez? E eles cada vez clamavam mais: Crucifica-o.
Então, Pilatos, querendo satisfazer a multidão, soltou-lhes Barrabás, e, açoitado Jesus, o entregou para que fosse crucificado.
E os soldados o levaram para dentro do palácio, à sala da audiência, e convocaram toda a coorte.
E vestiram-no de púrpura e, tecendo uma coroa de espinhos, lha puseram na cabeça.
E começaram a saudá-lo, dizendo: Salve, Rei dos judeus!
E feriram-no na cabeça com uma cana, e cuspiram nele, e, postos de joelhos, o adoravam.
E, havendo-o escarnecido, despiram-lhe a púrpura, e o vestiram com as suas próprias vestes, e o levaram para fora, a fim de o crucificarem.
E constrangeram um certo Simão Cireneu, pai de Alexandre e de Rufo, que por ali passava, vindo do campo, a que levasse a cruz.
E levaram-no ao lugar do Gólgota, que se traduz por lugar da Caveira.
E deram-lhe a beber vinho com mirra, mas ele não o tomou.
E, havendo-o crucificado, repartiram as suas vestes, lançando sobre eles sortes, para saber o que cada um levaria.
E era a hora terceira, e o crucificaram.
E, por cima dele, estava escrita a sua acusação: O Rei dos Judeus .
E crucificaram com ele dois salteadores, um à sua direita, e outro à esquerda.
E cumpriu-se a Escritura que diz: E com os malfeitores foi contado.
E os que passavam blasfemavam dele, meneando a cabeça e dizendo: Ah! Tu que derribas o templo e, em três dias, o edificas!
Salva-te a ti mesmo e desce da cruz.
E da mesma maneira também os principais dos sacerdotes, com os escribas, diziam uns para os outros, zombando: Salvou os outros e não pode salvar-se a si mesmo.
O Cristo, o Rei de Israel, desça agora da cruz, para que o vejamos e acreditemos. Também os que com ele foram crucificados o injuriavam.
E, chegada a hora sexta, houve trevas sobre toda a terra até à hora nona.
E, à hora nona, Jesus exclamou com grande voz, dizendo: Eloí, Eloí, lemá sabactâni? Isso, traduzido, é: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?
E alguns dos que ali estavam, ouvindo isso, diziam: Eis que chama por Elias.
E um deles correu a embeber uma esponja em vinagre e, pondo-a numa cana, deu-lho a beber, dizendo: Deixai, vejamos se virá Elias tirá-lo.
E Jesus, dando um grande brado, expirou.
E o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo.
E o centurião que estava defronte dele, vendo que assim clamando expirara, disse: Verdadeiramente, este homem era o Filho de Deus.
E também ali estavam algumas mulheres, olhando de longe, entre as quais também Maria Madalena, e Maria, mãe de Tiago, o menor, e de José, e Salomé,
as quais também o seguiam e o serviam, quando estava na Galileia; e muitas outras que tinham subido com ele a Jerusalém.
E, chegada a tarde, porquanto era o Dia da Preparação, isto é, a véspera do sábado,
chegou José de Arimateia, senador honrado, que também esperava o Reino de Deus, e ousadamente foi a Pilatos, e pediu o corpo de Jesus.
E Pilatos se admirou de que já estivesse morto. E, chamando o centurião, perguntou-lhe se já havia muito que tinha morrido.
E, tendo-se certificado pelo centurião, deu o corpo a José,
o qual comprara um lençol fino, e, tirando-o da cruz, o envolveu nele, e o depositou num sepulcro lavrado numa rocha, e revolveu uma pedra para a porta do sepulcro.
E Maria Madalena e Maria, mãe de José, observavam onde o punham.